Democratizar sem precarizar: qual saída possível para a Psicologia?

Atualmente, estamos vendo uma crescente busca pelo cuidado com a saúde mental. As pessoas falam mais sobre o tema, aceitam mais as terapias e enfrentam menos preconceitos para buscar ajuda psicológica. Principalmente no contexto pós-pandemia, essa abertura tem sido evidente.

No entanto, essa procura, por mais positiva que pareça, não tem sido acompanhada da devida valorização do trabalho do psicólogo. Por um lado, há uma demanda crescente por nossos serviços, mas, por outro, a forma como esses serviços têm sido oferecidos está precarizando profundamente o trabalho na área. Isso cria um dilema para o psicólogo ético: como oferecer um atendimento digno, acessível e ao mesmo tempo sustentar a qualidade e o valor que o trabalho exige?

Plataformas que prometem democratizar o acesso à Psicologia, muitas vezes, estão contribuindo para a desvalorização da profissão. Esses espaços não apenas reduzem a Psicologia a um serviço “barato”, mas transformam o profissional em um produto dentro de um catálogo, sem considerar sua formação, experiência e o vínculo necessário para um processo terapêutico eficaz. Quem mais lucra com isso? As plataformas. Quem menos ganha? O psicólogo e o paciente/cliente.

Além disso, esses valores baixíssimos não cobrem os custos que o psicólogo precisa e tem para sustentar sua profissão. Manter uma prática psicológica vai muito além de atender clientes. Há toda uma infraestrutura necessária: sala de atendimento, internet, materiais de trabalho. Sem falar na formação continuada, que é uma constante da Psicologia. Psicoterapia ou análise pessoal, supervisão regular e cursos de atualização são pilares essenciais para que o psicólogo ofereça um atendimento ético e de qualidade. Psicologia não é uma profissão de conhecimento estático; ela exige estudo para o resto da vida.

Essa falsa ideia de democratização, ao oferecer consultas a preços simbólicos, como R$30,00, carrega um custo alto demais: para o psicólogo, que mal consegue sustentar seu trabalho, e para o cliente, que recebe um atendimento que muitas vezes não reflete o que a profissão pode oferecer de melhor. É preciso refletir: democratizar o acesso à Psicologia não pode significar precarizar o trabalho de quem a pratica. Ainda cabe a reflexão sobre a quem deve recair a acessibilidade ao serviço de saúde mental de qualidade? Somente aos profissionais autônomos ou há outros atores que deveriam se ocupar disso?

A valorização do trabalho psicológico passa por repensar essas práticas. Passa por entender que cuidar da saúde mental exige ética, sim, mas também respeito ao profissional, às condições mínimas para que ele exerça seu papel, e ao impacto transformador que a Psicologia pode ter na vida das pessoas.

Em resposta a esse cenário de precarização e à necessidade de práticas que estejam à altura da subjetividade da nossa época, lançamos a plataforma Entrelugar  Digital. Esta iniciativa é a nossa resposta concreta para conectar psicólogos e clientes em uma relação de cuidado que respeite e valorize todas as partes envolvidas.

O Entrelugar  Digital se baseia em princípios de justiça e valorização do trabalho. Os preços são justos, alinhados às diretrizes do Conselho Federal de Psicologia, garantindo que o profissional tenha condições adequadas de sustentar sua prática e oferecer um serviço de excelência.

Somos a primeira plataforma a oferecer um trabalho verdadeiramente não precarizado, tanto para os psicólogos quanto para aqueles que se beneficiarão do serviço. Aqui, a democratização do acesso à Psicologia é uma prática concreta, ética e viável, que coloca o respeito e a dignidade no centro das relações.

O Entrelugar  Digital não é apenas uma ferramenta; é um movimento que acredita que cuidar da saúde mental é essencial e que isso precisa ser feito com integridade, compromisso e valorização de quem cuida e de quem é cuidado.

Visite nosso blog! Veja as última postagens

Nise da Silveira: quando o afeto vira revolução

Enquanto a psiquiatria da época apostava em lobotomias e eletrochoques, Nise acreditava que o afeto, o olhar atento e o fazer com as mãos podiam tocar onde os remédios não chegavam. No Hospital do Engenho de Dentro, ela criou um espaço onde pessoas diagnosticadas com transtornos mentais podiam pintar, modelar, costurar — e, nesse contato íntimo com os materiais, revelar algo de si. Não para serem “consertadas”, mas para serem vistas.

Leia mais »
Simbolizar o diagnóstico como ponto de partida e não como destino.

Diagnóstico: ponto de partida, e não um destino

Um diagnóstico não nasce de um vídeo viral. Ele se constrói ao longo de muitos encontros. Envolve testes, sim, questionários, instrumentos validados — mas também, e principalmente, envolve escuta. Porque não estamos lidando apenas com sintomas; estamos lidando com sujeitos. E sujeito é atravessado por história, cultura, instituições, condições sociais e econômicas. É preciso conferir valor singular ao sofrimento. Porque sofrimento não é genérico — ele tem nome, cor, classe, tempo e espaço.

Leia mais »
plugins premium WordPress