Empreender com a Escuta do Ser

Empreender é muito mais do que abrir um negócio ou oferecer um serviço. É um ato de colocar algo de si no mundo, de transformar uma visão em realidade. Na psicologia, esse movimento é ainda mais evidente: o trabalho clínico, as intervenções, a forma como conduzimos nossa prática – tudo isso carrega a marca singular de quem somos. Empreender na psicologia não se reduz a estratégias de mercado ou a modelos de gestão; trata-se de um processo que exige escuta. Uma escuta que começa em nós mesmos.

Cada psicólogo tem seu estilo, portanto, apesar de seguirmos referências teóricas e técnicas, cada um tem um modo próprio de operar, que emerge de sua subjetividade. O mesmo vale para o empreendedorismo. Por mais que possamos replicar modelos de negócios, estudar referências e adotar ferramentas, um empreendimento só se sustenta quando carrega algo genuíno. Quando há presença, desejo e decisão.

Nesse sentido, empreender não é apenas um ato externo, mas uma construção interna. E isso se aplica especialmente à psicologia. Quando um profissional decide abrir uma clínica, oferecer um serviço, desenvolver um projeto, ele não está apenas ocupando um espaço no mercado – ele está criando um lugar no mundo, um espaço que carrega sua escuta, sua visão, seu compromisso ético.

Porque, no fundo, os psicólogos já empreendem – mesmo que nem sempre reconheçam isso. Abrir uma sala, atender alguém, receber por isso – tudo isso já é um empreendimento. Empreender é decidir, e atender alguém exige um desejo decidido. Nosso objetivo é provocar essa reflexão e questionar a precarização da profissão.

O problema é que, muitas vezes, o empreendedorismo na psicologia é pensado apenas pela via da necessidade, da precarização e da sobrevivência. A ideia de que precisamos empreender para driblar a falta de oportunidades ou para “dar conta” das exigências do mercado pode nos levar a uma posição defensiva, sem reflexão. Mas empreender não deveria ser apenas uma resposta a um contexto adverso – deveria ser uma afirmação de presença, um ato criativo e singular.

A questão, então, não é apenas como empreender, mas como empreender sem perder de vista o ser. Como criar um espaço de trabalho que não nos sufoque, mas nos expresse? Como construir uma prática que não apenas funcione, mas que tenha sentido? Como sair do modelo de repetição e encontrar um caminho que realmente nos pertença?

A psicologia já é um campo de escuta, e o empreendedorismo na área precisa partir desse mesmo princípio. Escutar o mercado, sim, mas sem perder a escuta do próprio desejo. Criar estratégias, sim, mas sem abrir mão do estilo que torna cada trabalho único. Porque empreender sem escuta é apenas ocupação de espaço. Mas empreender com escuta é criação. E criar, no fundo, é sustentar um lugar de existência no mundo.

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